Ricardo Álvares
Ouvi dizer, por mais de uma vez, e por pessoas diferentes, ainda durante o Debate Público que ajudamos a organizar na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que hoje era um “divisor de águas” na questão quilombola de Minas Gerais.
Sinceramente, não sei bem se estavam se referindo às “águas” vertidas por nossos irmãos quilombolas, às do Carlos, às dos outros colegas do GT ou, mesmo, às minhas.
Eu, um típico bobo que não gosta de expressar seus sentimentos em público, confesso que chorei. E chorei por mais de uma vez.
Chorei, sozinho em meu canto, logo no início do Debate Público, ao perceber que aquilo era realidade, e que nós contribuímos diretamente para essa realidade, ao lado dos amigos e irmãos quilombolas.
Chorei, em público e sem conseguir conter ou esconder, ao escutar o canto, em tom de lamento, de Dona Tiana, guerreira quilombola que tão bem ilustra, como tantas outras e outros, a luta dos quilombolas de Minas Gerais e do Brasil. Sua voz ecoou em meu âmago, pois percebi, mais uma vez, que tudo que fizermos será pouco, será quase nada, frente ao sofrimento e à luta destes povos batalhadores.
Por isso, e por muito mais, quero aqui, neste espaço que, de certa forma, é meu confessionário público, acessado por alguns poucos, mas ótimos amigos, deixar registrado meu agradecimento em primeiro lugar ao quilombolas, pela persistência na luta diária, apesar de todos os percalços.
Aos colegas e amigos do GT, que aqui não quero nominar para não expô-los sem necessidade, registro meus sinceros agradecimentos pela “cumplicidade e conivência”, neste triplo crime de querer fazer chegar a informação correta à sociedade mineira em especial e à brasileira de um modo geral; de querer “forçar” a atuação concreta do Governo de Minas Gerais naquela que é o cerne da questão quilombola, ou seja, a regularização territorial e, por fim, mas mais importante, de defender e assegurar, com toda a esperança que isso representa, os direitos fundamentais garantidos pela Constituição da República, e que não vêm sendo respeitados, às comunidades quilombolas deste estado.
Isto está virando um discurso, mas nada mais importante que registrar, também, o papel absolutamente fundamental do Deputado Durval Ângelo (e também do Deputado João Leite), para a realização deste Debate Público e para a tramitação do Projeto de Lei 1839/2007, que precisa e será melhorado.
Às entidades e demais pessoas que colaboraram, homenageio a todas através de um agradecimento ao CEDEFES, parceiro histórico dos quilombolas deste estado.
O “divisor de águas”, assim, pode efetivamente não ser as lágrimas que vertemos, mas sim o avanço da questão quilombola em Minas Gerais, através da aprovação deste projeto de lei e de sua efetiva implementação.
Esse é o sonho que tivemos a ousadia de sonhar, ao lado dos quilombolas.
Gostaria de parabenizar os idealizadores desse blog. Fico feliz em saber que ainda existem pessoas de bem que lutam por causas tão nobres quanto a dos quilombolas. Estou iniciando minha monografia e esse blog será de grande valia. É triste saber da realidade do nosso Estado, que nem se quer relata a existencia dessas comunidades.
Obrigado pela ótima leitura.
Lucas Zenha Antonino